
Conhecimento e ações
Pilar 8 – Como convencê-lo ao tratamento
Muita gente acredita que o dependente só pode se tratar quando “quiser”.
Sim, a vontade é importante.
Mas, na maioria dos casos, essa vontade precisa ser despertada, estimulada e construída— com informação, apoio e persistência.
O papel de quem quer ajudar é sensibilizar, não forçar.
Convencer o dependente a se tratar é um processo. E esse processo varia conforme o estágio da doença.
Fase 1: Pré-contemplação
O dependente sente prazer com a droga.
Acha que tem controle. Não enxerga prejuízos reais. Acha que pode parar quando quiser.
O que fazer:
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Não confronte. Traga informações, vídeos, histórias reais.
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Fale sobre redução de danos: “Já pensou em diminuir o uso?”
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Reforce que a vida pode ser melhor sem a droga — sem pressão, com empatia.
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Evite “ultimatos”.
Fase 2: Contemplação
O dependente já percebe que há algo errado. Começa a reconhecer que perdeu oportunidades, saúde, vínculos.
O que fazer:
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Valorize essa percepção: “É muito corajoso da sua parte admitir isso.”
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Reforce que existe saída — e que ele não precisa enfrentar isso sozinho.
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Ajude a pesquisar tratamentos, marcar consultas, identificar grupos de apoio.
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Seja realista e acolhedor: “Vai ser difícil, mas você não está sozinho.”
Quando há resistência total: a técnica da Intervenção
Se o dependente nega completamente a situação, recusa tratamento e está em risco grave (violência, overdose, morte), pode-se recorrer à intervenção planejada.
Trata-se de um encontro com pessoas próximas — familiares, amigos, colegas — que relatam com fatos e afeto os danos causados pelo uso.
O objetivo é criar um choque de realidade, sem ataques, sem ameaças.
Se ainda assim não houver abertura, pode ser necessário buscar apoio profissional e, em último caso, avaliar uma internação involuntária, conforme a legislação permite em situações críticas.
⚠️ ATENÇÃO
Não existe “força de vontade mágica”.
A decisão de se tratar é construída com tempo, vínculo e sensibilização.
Quem apoia precisa ter paciência, firmeza e preparo — inclusive emocional.
Conheça os Tipos de Tratamento
A dependência química tem tratamento.
Assim como outras doenças crônicas, ela exige um plano estruturado, acompanhamento contínuo e comprometimento do paciente e da rede de apoio.
Não existe fórmula mágica ou cura imediata — mas há caminhos seguros, eficazes e possíveis.
Cada pessoa tem sua história, seu estágio de uso, seu contexto familiar e social. Por isso, o tratamento precisa ser personalizado, acessível e viável para cada caso.
O mais importante é saber que existem alternativas eficazes — e que recuperação é possível.
O que define o tipo de tratamento?
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O estágio da dependência
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A substância usada
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As condições físicas e emocionais da pessoa
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A estrutura familiar e social
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A urgência da situação
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Os recursos disponíveis (públicos ou privados)
O que significa tratar a dependência?
Tratar a dependência química é muito mais do que “parar de usar drogas”.
É cuidar do corpo, da mente, das emoções, dos vínculos familiares e sociais.
É reconstruir a vida.
O tratamento ajuda o dependente a:
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Sair do ciclo do uso compulsivo
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Enfrentar os gatilhos e as recaídas
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Recuperar o equilíbrio emocional
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Reconstruir sua autoestima
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Retomar projetos, vínculos e dignidade
Tipos de tratamento
1. Atendimento ambulatorial
Feito por meio de consultas com profissionais (psicólogos, psiquiatras, terapeutas).
Ideal para casos mais leves, em que a pessoa ainda mantém certa organização na vida.
Inclui:
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Terapia cognitivo-comportamental (muito eficaz)
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Intervenções breves
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Apoio de grupos como AA ou NA
✅ Vantagens: não exige internação, pode ser combinado com trabalho e vida familiar.
⚠️ Limitação: menos indicado em quadros mais graves ou com risco de recaída constante.
2. Internação para desintoxicação (curta duração)
Recomendada quando o uso está descontrolado e a pessoa não consegue parar sozinha.
Pode durar de 7 a 15 dias, com suporte médico e psicológico intensivo.
Objetivos:
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Controlar a abstinência
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Estabilizar o organismo
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Iniciar a conscientização sobre a doença
✅ Pode ser feita em clínicas ou CAPS (rede pública).
3. Internação com conscientização (Média/longa duração)
Indicada para casos graves ou crônicos.
Além da desintoxicação, oferece acompanhamento psicológico, espiritual, familiar e ocupacional.
Duração: normalmente de 30 dias a 6 meses, dependendo do modelo.
Alguns modelos incluem:
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Programa dos 12 passos (como em comunidades terapêuticas)
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Internação com participação da família em finais de semana
✅ Mais estruturada, ajuda na mudança de hábitos e fortalecimento emocional.
⚠️ Importante: deve ser combinada com plano de pós-tratamento.
4. Tratamentos públicos
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CAPS AD (Álcool e Drogas): unidades do SUS com equipe multiprofissional
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Comunidades Terapêuticas: mantidas por igrejas ou instituições sociais
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Hospitais psiquiátricos públicos ou conveniados
✅ Alternativas gratuitas ou de baixo custo
⚠️ A disponibilidade varia por região
5. Tratamentos particulares
Clínicas privadas oferecem mais estrutura, privacidade e conforto.
Algumas têm convênio com planos de saúde. Outras são pagas diretamente pela família.
✅ Acesso mais rápido e atendimento personalizado
⚠️ Custo pode ser um limitador
6. Grupos de apoio
AA (Alcoólicos Anônimos), NA (Narcóticos Anônimos), Amor-Exigente, entre outros.
São fundamentais para manter a sobriedade no longo prazo e oferecer suporte contínuo.
O que torna um tratamento eficaz?
Segundo o NIDA (Instituto Nacional de Abuso de Drogas), há 13 princípios:
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A dependência é uma doença complexa, mas tratável, que afeta o funcionamento do cérebro e o comportamento.
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Não existe um tratamento único que sirva para todos.
O plano deve ser individualizado, respeitando o histórico, o contexto e as necessidades específicas da pessoa. -
O tratamento deve estar prontamente disponível.
A prontidão para receber ajuda pode ser breve. Se o acesso for difícil, a oportunidade pode se perder. -
Um tratamento eficaz atende às múltiplas necessidades da pessoa, não apenas ao uso de drogas.
Saúde física, mental, emprego, vínculos sociais, moradia, aspectos legais, tudo deve ser considerado. -
É essencial manter o tratamento por tempo adequado.
Permanecer em tratamento o suficiente é crucial. O tempo ideal varia, mas geralmente mínimo de 90 dias é recomendado. -
Aconselhamento (individual e/ou em grupo) é um componente central.
Ajuda a mudar comportamentos, lidar com gatilhos e desenvolver estratégias de enfrentamento. -
Medicamentos são importantes para muitos pacientes, especialmente quando combinados com apoio psicossocial.
No caso de opioides, nicotina e álcool, o uso de medicamentos específicos pode ser altamente eficaz. -
O plano de tratamento deve ser constantemente avaliado e modificado conforme necessário.
As necessidades mudam, e o plano deve ser adaptado. -
Transtornos mentais coexistentes devem ser tratados de forma integrada.
É comum que dependência venha acompanhada de depressão, ansiedade, TDAH, entre outros. -
A desintoxicação médica é só o primeiro passo — e sozinha não é suficiente.
Ela prepara o corpo, mas a recuperação exige um programa de continuidade. -
O tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.
Intervenções legais, familiares ou profissionais podem levar a bons resultados, desde que o tratamento seja de qualidade. -
O uso de drogas durante o tratamento deve ser monitorado continuamente.
Isso ajuda a prevenir recaídas, ajustar abordagens e fortalecer o compromisso com a recuperação. -
Programas devem oferecer testes e orientações sobre HIV, hepatites, tuberculose e outras doenças infecciosas.
Além de reduzir riscos, isso reforça o cuidado integral com a saúde.
⚠️ ATENÇÃO
O melhor tratamento é aquele que combina ciência, empatia e continuidade.
Mais importante que o tipo é manter o acompanhamento após o tratamento e oferecer rede de apoio firme e estruturada.
O tratamento não termina com uma internação
A recuperação é um processo contínuo.
Após a saída da clínica ou o fim do protocolo inicial, o dependente precisa:
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Manter vínculo com grupos de apoio
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Seguir com terapia ou atendimento médico
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Reorganizar a vida em um ambiente saudável
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Desenvolver novos hábitos, novos projetos, novas referências
Esse período é conhecido como pós-tratamento ou manutenção da sobriedade — e é onde muitos recaem, por falta de estrutura emocional e apoio.
E se houver recaída?
A recaída não é o fim da recuperação — é um alerta de que algo precisa ser ajustado.
Ela pode acontecer e deve ser tratada com seriedade, mas sem culpas ou abandono.
O importante é retomar o caminho com apoio, acolhimento e correções no plano de tratamento.
🟢 Há tratamento. Há chance. Há vida depois da droga.
O processo pode ser longo, com avanços e recaídas, mas milhares de pessoas conseguiram.
A recuperação é real — e começa com um passo.
Este site está aqui para mostrar os caminhos, apoiar decisões e sustentar a esperança.
>> 3 – Por que as pessoas entram nas drogas
>> 4 – Por que é tão difícil sair das drogas?
>> 5 – Como abordar o dependente
>> 6 – Como lidar com a negação
>> 7 – Como conquistar a confiança do dependente
>> 8 – Como convencê-lo ao tratamento
>> 9 – A necessidade de mudar de vida
>> 10 – Como manter a sobriedade no dia a dia
>> 11 – O perigo da codependência
>> 12 – O papel da espiritualidade e do propósito na recuperação