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Conhecimento e ações 

Pilar 5 – Como abordar o dependente

Abordar alguém que sofre com a dependência química é uma das tarefas mais difíceis — e, ao mesmo tempo, mais necessárias.


É comum sentir medo, raiva, frustração ou impotência. Mas antes de qualquer conversa, é preciso lembrar: o dependente não precisa de confronto. Ele precisa de ajuda.

Tente compreender o que o dependente encontra nas drogas — prazer, fuga, sensação de força — e use isso como ponto de partida para mostrar que os efeitos negativos virão e serão mais fortes que os aparentes “benefícios”.

A forma como você se aproxima pode fazer toda a diferença entre afastá-lo ou abrir a porta da recuperação.

A abordagem varia conforme o estágio da doença

- Quando o dependente está no início e só busca prazer:
Nesse estágio, a droga ainda traz sensações positivas — prazer, alívio, excitação. A pessoa não reconhece o risco nem percebe prejuízos evidentes.

Como agir:

  • Evite julgamentos. Não diga: “Você vai acabar com sua vida”.

  • Diga: “Sei que te dá prazer, mas já pensou nas consequências a longo prazo?”

  • Traga informações sobre a doença.

  • Sugira redução de danos: “Já pensou em passar um tempo sem usar?”.

  • Compartilhe histórias reais de recuperação.

  • Crie vínculos e escuta ativa.

Aqui, tenha como meta plantar dúvidas e abrir espaço para reflexão.

- Quando o dependente quer parar, mas não consegue:
Aqui, a pessoa reconhece o sofrimento, sente culpa, vergonha e deseja mudar — mas não tem força ou estrutura emocional para sair sozinha.

Como abordar:

  • Valorize o reconhecimento: “Você já deu o primeiro passo: perceber que precisa mudar.”

  • Acolha sem cobrança: “Não é fraqueza. A dependência realmente exige ajuda.”

  • Esteja presente, mas sem sobrecarregar: ofereça apoio prático (pesquisar tratamentos, acompanhar em consultas, etc.).

  • Fale da importância de não enfrentar isso sozinho: grupos de apoio, terapia, profissionais especializados.

  • Ajude a criar um plano de ação. Pequenas metas, com calma e constância.

Nesse estágio, tenha como meta fortalecer a confiança e encaminhar, com firmeza e sensibilidade, ao tratamento adequado.

- E quando a pessoa já atingiu o fundo do poço

Em casos extremos — overdose, internações, abandono, sofrimento intenso —, o dependente está fragilizado e exausto.
Muitas vezes, ele aceita qualquer ajuda, mas não sabe por onde começar.

Como agir:

  • Aja rápido, com firmeza e serenidade.

  • Apresente uma rede concreta de apoio e conduza os primeiros passos.

  • Evite julgamentos e concentre-se na urgência do cuidado.

  • Envolva profissionais desde o início: médicos, terapeutas, grupos especializados.
    Aqui, tempo e acolhimento são essenciais para evitar recaídas ou desistência precoce.

 

Cuidados que valem para todos os casos:

  • Crie um ambiente diferente para a jornada.

  • Evite gritos, ironias, ameaças ou chantagens.

  • Nunca trate a dependência como fraqueza ou “falta de vergonha na cara”. 

  • Não transforme a conversa em interrogatório.

  • Mostre que está ali para apoiar, não para julgar.

  • Fale dos impactos do uso — não das culpas.

Escolha o momento certo

Converse quando a pessoa estiver sóbria e mais receptiva.
Evite crises, intoxicações ou conflitos. Forçar a conversa pode fechar portas.

Seja direto, mas com empatia

Aponte as consequências do uso — no corpo, nos relacionamentos, no trabalho, nos estudos. Mas sem culpar ou humilhar. Mostre os impactos observáveis, sem humilhar. Use uma linguagem clara, firme e respeitosa:

“Eu me preocupo com você. Tenho visto mudanças e queria conversar.”
“Percebi que você tem faltado muito ao trabalho.”
“Você está mais isolado, e isso me entristece.”
Foque no presente e no que ainda pode ser feito.

Escute, mesmo que doa

Deixe o dependente falar. Às vezes, o que vem é negação, raiva ou silêncio. Mesmo assim, escute. Demonstre que você está ali, sem julgamento, mas com responsabilidade.
A escuta acolhedora é o início da reconstrução de um vínculo real.

Ofereça ajuda concreta

Não basta dizer “quero te ajudar” — é preciso mostrar como.
Pesquise antes: saiba onde há tratamento, grupos de apoio, redes de acolhimento.
Mostre que há caminhos possíveis. Aponte recursos. Caminhe junto.

Prepare-se para ouvir “não”

Nem todo dependente está pronto para aceitar ajuda na primeira conversa.
Pode haver rejeição, raiva, negação. Não desista.
Continue presente, informado, firme — mas respeitando o tempo da outra pessoa.

Cuide de você também

Ajudar alguém com dependência química é difícil e, muitas vezes, doloroso.
Busque apoio. Participe de grupos para familiares (como Amor-Exigente, Nar-Anon, Al-Anon). Não se isole.
Você não está sozinho.

Acolher não é ceder a tudo — e impor limites não é abandonar

Ajudar alguém com dependência exige mais do que amor: exige discernimento.
Ceder a tudo o que o dependente pede — dinheiro, abrigo, justificativas — pode parecer acolhimento, mas pode alimentar a própria doença.


Ao mesmo tempo, atitudes radicais como expulsar de casa, cortar toda relação ou recusar qualquer diálogo também podem causar rupturas profundas.

Para alguns, limites firmes funcionam como um alerta. Para outros, afastamento total pode significar perdê-los de vez.

Não há fórmula única.
Cada caso tem seu tempo, sua dor e sua história.
O equilíbrio está em apoiar sem se anular, acolher sem ser permissivo, colocar limites sem romper o vínculo.
Essa dosagem é difícil — mas é nela que mora a chance real de ajudar

>> 1 – Entenda a doença

>> 2 – Evolução da Doença

>> 3 – Por que as pessoas entram nas drogas

>> 4 – Por que é tão difícil sair das drogas? 

>> 5 – Como abordar o dependente

>> 6 – Como lidar com a negação

>> 7 – Como conquistar a confiança do dependente

>> 8 – Como convencê-lo ao tratamento

>> 9 – A necessidade de mudar de vida

>> 10 – Como manter a sobriedade no dia a dia

>> 11 – O perigo da codependência

>> 12 – O papel da espiritualidade e do propósito na recuperação

>> 13 – Como reconstruir os vínculos familiares

 

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